150 Anos do Auto de Fé

Foi no ano de 1861. O livreiro Maurício Lachâtre, um famoso dicionarista, solicitara ao Codificador a remessa de livros espíritas, porquanto desejava fazer propagar o Espiritismo.
Aproximadamente trezentos livros foram remetidos por Allan Kardec a Lachâtre, que pagou os tributos alfandegários ao governo espanhol. No entanto, o destinatário nunca recebeu os livros, porque o Bispo de Barcelona, Antonio Palau y Termens, sabendo da remessa, considerou as obras perniciosas à fé católica e determinou que fossem confiscadas pelo Santo Ofício.
Em vão, Kardec solicitou a devolução, mas, pelo “entendimento” da apontada autoridade clerical, o governo não podia consentir que eles passassem a perverter a moral e a religião de outros países.
Assim, Kardec perdeu os livros, e os direitos aduaneiros não foram também restituídos a Lachâtre. No entanto, tudo isso favoreceu o crescimento do Espiritismo.
Embora pudesse Kardec reaver o que fora perdido, caso enveredasse pelas vias diplomáticas, segundo o conselho da Espiritualidade era melhor deixar as coisas como estavam, uma vez que a ignomínia constituiria, como de fato ocorreu, excelente propaganda para o Espiritismo.

No total, foram livros e brochuras de Espiritismo, entre eles: números da Revista Espírita, de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O que é o Espiritismo,Fragmento de Sonata (ditado pelo Espírito de Mozart), Carta de um católico sobre o Espiritismo (pelo Dr. Grand), A História de Joana D’arc (por ela mesma ditada a Mlle. Ermance Dufaux) e A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta (pelo Barão de Guldenstubbé).

Obra de Maurice Lachatre
Segundo relato de Henri Sausse – que pode ser visto também nas pesquisas de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen e na obraGrandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil –, após o fogo envolver todos os livros, o padre que comandava o ato, revestido de hábitos sacerdotais, e seus ajudantes se retiraram do local sob os apupos e maldições da numerosa plateia, que gritava: “Abaixo a Inquisição!”.
O jornal local, La Corona, protestou em defesa do livre pensamento, além de evidenciar o desapontamento geral.
Entretanto, o referido episódio, realmente, parece ter despertado a atenção de Kardec, até porque, depois desse ato odioso, a Espiritualidade trabalhou para a materialização do livro O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, que viria a lume em abril de 1864, completando, dessa forma, a tríade: Filosofia, Ciência e Religião.

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